quarta-feira, 7 de maio de 2008

SPE Primeira parte: consciência ambiental

Quando as rodas do avião encostaram na pista de pouso do aeroporto de Recife, era como se o tranco fosse o súbito despertar de um sonho. “Hora de voltar à realidade, garota. Hora de pôr os pés no chão ao qual você realmente pertence”. Pela primeira vez na vida não me sentia feliz em regressar, pela primeira vez na vida, a minha cama não me pareceu a melhor do mundo e o meu lar não tão meu assim. pela primeira vez não gostei do Brasil.

Amigos me disseram se tratar da SPE (Síndrome Pós-Europa), uma doença (ainda não descoberta pela ciência heheh) que acomete às pessoas que passam dias, meses ou anos em aparentes paraísos europeus e de repente chegam num lugar cheio de coisas para corrigir, cheio de incongruências, desigualdades, erros e contradições. E não são poucas. Hoje desenrolo a primeira.

A mais importante, e em moda, delas talvez seja a relação com o meio ambiente, a consciência ambiental.

Passar dias, meses ou anos em um lugar em que as pessoas separam o lixo, trocam o carro pela bicicleta ao ir para o trabalho e tem as cidades infestadas por praças e jardins provocam algumas reações quando a pessoa se depara com um trânsito absolutamente caótico, as ruas cheias de papel de bala e as calçadas de buraco, carros de som mal-educados arrancando o restinho de sanidade que ficou grudado nas paredes das nossas caixas cranianas já esvaziadas pelo estresse.

A cara fechada européia nem sempre tão simpática é compensada pelo respeito ao direito alheio de andar nas ruas limpas, de chegar ao trabalho no horário, de não ter o cabelo permanentemente fedendo a nicotina mesmo sem nunca ter posto um cigarro na boca, de atravessar a rua sem doses extra de adrenalina.

Estou doente e essa doença me irrita porque não quero virar mais uma cidadã que só sabe falar mal de um país que até quinze dias atrás era o lugar que eu mais amava no universo inteiro. Um lugar onde em cada canto eu me sentia em casa e hoje já não me sinto mais.

A gente vai andando pela rua e de repente dá vontade de implodir tudo e começar do zero, mas não dá. E mesmo que desse, do que iria adiantar se iríamos construir tudo errado de novo? O problema é bem mais embaixo.
Quando vinha, pude ver minha cidade toda do alto e nunca a achei tão bonita. Isso vista de cima onde a gente não ouve e não vê de perto certas coisas. Mas prefiro ver a cara feia que temos daqui de baixo para ver se me esforço para fazer alguma coisa.

Muitas vezes sou a eco-chata da Três Virgens, mas sinto necessidade de gritar, não só de gritar, porque gritar todo mundo grita, mas para o vizinho ouvir e nunca para si mesmo, nunca para fazer sua parte e deixar de colocar a culpa do fim do mundo em quem não assinou o tratado de Kyoto.

Confesso que essa organização européia me irritou nos primeiros dias. Ás vezes parava com um objeto na mão sem saber em qual dos três lixeirinhos depositar o que tinha nas mãos. Mas quando cheguei, apenas 10 dias depois, me vi de repente na cozinha parada com um papel de pão na mão me perguntando cadê o lixeirinho de colocar material reciclável. É, admito: na minha casa, só tenho um lixeiro na cozinha.

Pensei em comprar mais dois, mas pensei se adiantaria alguma coisa já que ia se misturar ao bolo do resto condomínio e o carro do lixo não iria saber que meu lixo já estava separadinho.Além do mais, dose pra leão convencer meus pais de que isso é necessário.

Mas sempre há uma luz no fim do túnel. Essa luz, bem como as pessoas que acendem essa lanterna, me devolvem um pouco do orgulho verde-amarelo. Ufa! Vez ou outra mais um brasileiro acorda. É claro que de um em um vai demorar um bocado para educar os 186.781.207 habitantes que o Brasil tinha no momento em que escrevi esse texto, segundo o serviço de acompanhamento em tempo real do IBGE.

E nem me venha com a desculpa de que somos um país jovem, temos já 500 anos nas costas e vale lembrar que a Europa foi praticamente devastada na Segunda Guerra, ou seja, temos 445 anos de vantagem. Já passou da hora de criar juízo. Tô errada?

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