sábado, 23 de fevereiro de 2008

Desliguem as câmeras, please!!!

Há uns tempos uma questão me atormenta dia e noite: o que será de nós seres humanos com o total fim da privacidade. Desde cedo nos é ensinado que não devemos mentir nem omitir nada dos pais, da justiça ou de Deus, mas alguém já conseguiu cumprir isso alguma vez? Até para encurtar conversar, muitas vezes omitimos os lugares pelos quais andamos ou que fazemos. Além do mais nunca soube de nenhum artigo na Constituição, nem na Declaração Universal dos Direitos Humanos e nem na Bíblia que tirasse dos humanos o direito de ter segredos. Até Deus os têm e muitos.

Tava pensando: os celulares hoje em dia vêm com GPS, se entramos numa loja, milhares de câmeras nos observam, no trabalho do mesmo jeito, nos bancos, no elevador até nas ruas, nos semáforos. Poxa! Quero de volta meu direito de pôr o dedo no nariz sem que nenhuma câmera me flagre.

No ônibus, pelo menos aqui em João Pessoa, a bilhetagem é eletrônica. Para comprar o cartão você dá seus dados então, se for da vontade das empresas elas sabem a hora que você pega ônibus todo dia, sabem se você resolve ir a algum lugar diferente e a que horas costuma não estar em casa. Essa informações podem ser preciosas. Pro bem ou pro mal.

Os cartões de crédito então? De acordo com o seu perfil de compras, que eles sabem de cor, é possível decidir a melhor maneira de te levar a falência e ainda sabem a hora que você gosta de fazer compras, quais suas lojas preferidas, quais suas fraquezas na hora que entra numa loja, onde você gosta de comer até quem você quer comer. Olha o perigo.

Saudade de sair por ai e ter certeza de que ninguém faz a mínima idéia de onde estou ou do que está fazendo, cometer pequenos, deliciosos e inofensivos pecados. É tão bom ficar sem celular de vez em quando, sem computador, sem câmeras, sem amarras, sem obrigação de prestar contas a todo mundo.

No trabalho, sabem os sites que visito, em casa querem saber de onde vim e para onde vou. E se eu não quiser que as pessoas saibam tudo da minha vida? Ainda tenho direito? Acho que até nos banheiros tem câmeras agora.

Sempre achei engraçado pessoas famosas falarem que ninguém respeita sua privacidade, bom, então por qual motivo correram tanto atrás da fama? Essas pessoas não têm lá muito direito de cobrar paz para namorar ou andar de chinelo, mas eu posso, não sou famosa e nem pedi pra ninguém ficar de olho em mim. Pode até ser para minha segurança, mas eu não quero. Não pedi para ninguém fuçar na minha vida.

Já não basta morrer de vergonha ao encontrar com meus entrevistados mais importantes na fila do supermercado de havaiana e camiseta. Tenho direito de usar havaina e camiseta e mandar o salto alto para PQP fora do meu horário de trabalho. Tenho direito de não usar batom para ir comprar pão e que ninguém saiba se passo a noite na internet lendo Shakespeare ou vendo pornografia.

Para o dicionário, privacidade é a habilidade de uma pessoa em controlar a exposição disponibilidade de informações e acerca de si. Relaciona-se com a capacidade de existir na sociedade de forma anônima (inclusive pelo disfarce de um pseudônimo ou por um identidade falsa). Para um tal de Túlio Vianna, professor de Direito da PUC Minas, que achei no Google, o direito à privacidade se divide em 3 outros direitos que, em conjunto, caracterizam a privacidade: 1 -Direito de não ser monitorado, entendido como direito de não ser visto, ouvido, etc. 2 - Direito de não ser registrado, entendido como direito de não ter imagens gravadas, conversas gravadas, etc e 3 - Direito de não ser reconhecido, entendido como direito de não ter imagens e conversas anteriormente gravadas publicadas na Internet em outros meios de comunicação.

É piada! Quem ainda tem esses direitos, eu não os tenho a muito tempo. O banco sabe quanto ganho, o cartão de crédito, sabe onde como, o cartão do ônibus sabe onde vou, on GPS do celular sabe onde estou, os fofoqueiros de plantão sabem com quem estou e as cameras de celular provam a quem quiser.... todas sabem minhas fraquezas, minhas mediocridades, isso porque afinal, quem se importa em conhecer o lado bom de alguém?

Por isso que preferi o anonimato no blog, mas olha, todo mundo me conhece, meu texto é facilmente reconhecido e nem assim consigo me esconder. Quem sabe esse Big Brother me eduque? Ou me torna falsa e hipócrita? Quem sabe as consequencias de não das as pessoas o direito de ficarem sós consigo mesma e serem quem são.

Bons tempos o que se podia ser vil, ter pensamentos menos nobres e fazer coisas inconfessáveis escondido. Bons tempos.

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