terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Mamãe, quero ser burra!!! (por Orquídea)


As pessoas sempre disseram que sou uma mulher inteligente. Para ser sincera nunca entendi muito os motivos de tantos elogios. Nunca fui a melhor aluna na escola, me saia bem, mas não era nenhuma CDF, penei em recuperação também. Hoje em dia, algumas vezes, demoro a entender piada e é relativamente fácil me passar a perna (principalmente se você for homem, bonito e aparentemente culto), entretanto não são poucas as pessoas a ressaltar minha hipotética ou até mitológica inteligência.

Burra eu sei que também não sou, sei também que conquistei mais caras com o papo que com o decote. O problema é que essa tática não anda funcionando muito bem. Não sei se é para me consolar ou se é de coração, mas todo mundo diz que estou sozinha por ser inteligente demais e que homem tem pavor disso, pois se sentem diminuídos. Será?

Tenho cá minhas dúvidas, mas escuto isso de muita gente: que homem não gosta de mulher inteligente e por isso estou sozinha. E aí eu me lasquei, porque todo mundo sempre me achou mais inteligente do que na verdade sou. Estou pagando por um defeito que nem tenho, defeito não, na verdade eu até adoraria uns neurônios mais animadinhos, mas não é o caso. Tô pedindo pra sair, nega!Pode até ser uma desculpa padronizada, mas já ouvi isso mesmo de várias pessoas.

Será que é por que a coisa que mais me dá tesão no mundo é um bom papo? Não sei, vou morrer sem saber. Minha mãe diz que assusto os caras. Mas eu não saio discutido Nietzsche no primeiro encontro, nem sou metida me achando a única pessoa que realmente entende de política no mundo. Aliás, tenho evitado ao máximo a frase: “certa vez li que...”, principalmente se o que vou falar não puder ser encontrado em revistas de fofoca ou na revista da TV de algum jornal.

Ultimamente tenho me esforçado bastante para parecer um pouco burra, olha que já funcionou, mas eu encho logo o saco de um cara que não está disposto a levar um papo interessante comigo. Só dois caras gostaram do fato de minha cabeça não ser apenas um porta-cabelo. Um deles gostava de uns papos-cabeça e eu viajava, entrava na dele, debatia, algumas vezes ele olhava pra mim e dizia: “você sabe tudo, garota?” E depois me enchia de beijos. Tá vendo, uma coisa não interfere na outra: nem sempre quem é bom de mesa (ou sofá) é ruim de cama.

A questão é que os homens gostam mais de conversar comigo do que me levar para cama. Há controvérsias, mas as vezes é o que parece. As feministas de plantão devem estar achando um absurdo querer ser menos esperta para agradar o sexo oposto, mas a gente também precisa de uma boa cama, além de papo. Não queria ser burra, queria ser esperta o suficiente para fingir que sou, entende?

Mas eu nem sei se posso reclamar. Odeio sair com um cara que não presta atenção no que estou falando e cujo único desejo é me levar para um lugar isolado e me fazer calar a boca. Álias, isso é uma das coisas que me faz calar a boca mais rápido e também fechar as pernas. Posso não ser uma das mais espertas, mas certamente me orgulho de ter lido mais clássicos que a média e gostar de discussões filosóficas. Qual o pró?

Álias não me encaixo em nenhuma das categorias que a maioria os homem costumam gostar: das burras, das gostosas, das submissas. Na verdade ainda não inventaram um estereotipo no qual eu coubesse, nenhuma fantasia social ou psicológica com meu número.

Bom, no final das contas, antes só que mal acompanhada. Prefiro falar sozinhas, sinal de muita criatividade além de inteligência, dizem especialistas, que falar com alguém que não me ouve e a única coisa que pensa ao me ver é tirar minha roupa. Afinal, mulheres inteligentes não precisam de um pênis, precisam de um homem integral, de verdade, que saiba reconhecer um artigo de primeira quando vê.

E novamente aliás, ando calando a boca quando saio com casais, algumas vezes e coleguinha foi completamente excluída da conversa, já fui causadora involuntária de crises de ciúmes. Mas aí é que está: sou vista como um papo interessante e nunca uma mulher para ser amada, por isso as crises de ciúmes não têm fundamento. Será que os homens me enxergam como um deles, será que por este motivo boa parte dos meus amigos tem um cromossomo Y? Será que sou um homem gay no corpo de uma mulher?

Bom, só sei que entre os homens e meus neurônios, no final das contas, no fundo, no fundo, fico com meus neurônios. Eles me fazem ser uma ótima companhia para mim mesma; sou um ser auto-suficiente. Bom, e a quem conseguiu permanecer com os neurônios e viver um amor: parabéns, aliás (adoro essa palavra) as burras nem valorizam tanto o amor assim. E para finalizar (rsrsrsrs só de sacanagem), como diria Nietzsche: “ É pelas próprias virtudes que se é mais bem castigado”. Será que é esse o meu caso?
Por Orquídea

Um comentário:

Anônimo disse...

"Sei que entre os homens e meus neurônios, no final das contas, no fundo, no fundo, fico com meus neurônios". Como diria Giovani Improta, "FELOMENAL". Menina, você arrasou no texto.