domingo, 30 de março de 2008

Sem Paixão (de Cristo) - por Orquídea Selvagem


Como toda boa nordestina, católica relativamente praticante e fã incondicional de Jesus Cristo, que pra mim é “O Cara”, resolvi que este ano iria à Nova Jerusalém, ver a famosa encenação da Paixão de Cristo de Pernambuco.


Não sabia eu, que quem iria enfrentar uma ‘via crucis’ seria a pessoa que vos fala. Sinceramente, acordar às 6h da manhã de um dia que eu não iria trabalhar para mim já era martírio mais que suficiente. Ledo engano, esse era apenas o começo.

Pontualmente às 7h chega a minha casa a van para nos levar a Pernambuco, antes faríamos uma paradinha em Caruaru e em Turitama (acho que é esse o nome) a famosa terra do jeans bom e a preço de banana.

Primeiro problema do dia: ninguém conseguia achar a casa de uma das passageiras, amiga nossa. O Bessa, famoso por se tornar um mangue após qualquer chuvinha, estava um lamaçal só. Foi um verdadeiro rally. Não conseguíamos parar de rir enquanto tínhamos todos os nossos ossos retirados do lugar pelos sacolejos do carro. Achamos a danada e fomos pegar os outros passageiros.

O carro era velhinho, mas o motorista, um argentino, era bacana. Sua assistente, que vestia um macacão frente-única preto, apertadíssimo e uma sandália alta prateada às sete da manhã de uma quinta-feira Santa chuvosa indo ver a Paixão de Cristo, também era.

Seguimos pela BR. Teve lanchinho no caminho com cartão de Feliz Páscoa. Coca-cola, bolo de milho e bolo-pudim (que adoro) para gente chegar lá com a glicemia nas alturas.

Perto da cidade do Cajá o carro vai para o acostamento. Os passageiros se entreolham com aquela cara de “ai, meu Deus, diz que é mentira”. Alguns minutos depois ele vem nos avisar com seu inconfundível sotaque: “A única peça que non podia quebá, quebô. Non tinha como revisar, era peça soldada. Ela partiu no meio”. Com o seu sotaque que passamos horas imitando depois, ele disse que ia tentar dirigir até o Cajá e nos colocar num ônibus para João Pessoa.

Chamaram um mecânico, mas o carro não podia ir até o Cajá.

Enquanto isso, uma das meninas que estava comigo e tem um probleminha nos rins, precisava urgentemente fazer xixi. Só tinha lama ao redor da estrada e nenhuma moitinha por perto.

Atravessamos a pista, que está em obras, pois do outro lado tinha um pé de Juá. Não escondia muito, mas a distancia podia poupar nossos companheiros de viagem de observar de perto alguns dos nossos detalhes anatômicos. Foi a primeira vez que fiz xixi num matinho. Ainda bem que nossa prevenida amiga trouxe papel. Difícil foi chegar atrás da arvore, o terreno era íngreme, tinha lama fresca e escorregava horrores. E a gente se agarrando nos galhos, se espetando toda nos espinhos do Juá só por causa de um xixi. Colhemos um monte de juá. Trouxe para minha mãe que gosta.

Tempos depois, na estrada, num mormaço de matar, uma kombi pára disposta a nos deixar em Santa Rita. Menos mal.

Quando o cara abre a porta da kombi, a surpresa: não havia bancos, só um monte de caixas de papelão que tornavam o chão ainda mais desconfortável. E o jeito? Minha coluna ainda vai reclamar um bocado.

No meio do caminho fomos fazendo graça da situação até que aparece um barbeiro (aquele da doença de chagas) dentro da kombi, pense no medo e desespero vendo o bichinho passear entre nós.

O homem da kombi sentiu tanta pena de nós que resolveu nos deixar em João Pessoa e não cobrou a viagem. Cheguei em casa bem antes do previsto e fui dormir, cansada que estava de tanto rir e nem tão triste por ter perdido a Paixão de Cristo.


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