quinta-feira, 13 de março de 2008

Choque cultural (por Butterfly)


Quando mudei a história de minha vida e vim parar nos Estados Unidos, há quase três anos, ouvi muita gente dizer que sou corajosa. Nunca me senti uma mulher-maravilha por causa disso, mas sim uma abençoada por Deus, pois quem me conhece sabe porque estou aqui. Mas hoje não vou falar como ou o que me transformou em uma imigrante. Contarei um pouco sobre as experiências e o choque cultural que vivenciei nos primeiros seis meses de EUA.
Minha memória não é lá estas coisas, mas é impossível esquecer o primeiro dia que pisei aqui. Apenas oito horas de vôo podem transformar uma vida e foi isto que aconteceu. Até então, nunca tinha visto tantas pessoas e idiomas diferentes ao mesmo tempo. Senti-me numa Torre de Babel (reação mais do que normal, pois vim direto da Paraíba, nunca havia viajado para o exterior e era acostumada a ouvir apenas: oxente, varei, vixe...). Não vá achar que sou matuta por causa disso (risos). Apenas nunca tinha tido uma oportunidade dessas.
Tudo que era “diferente” para mim, era tão normal para os outros. Aqui é assim: você se veste como quer, usa o cabelo como quer, come como quer, vive como quer, e, aparentemente, ninguém está nem aí para você.
Creio que a maioria das pessoas no Brasil acharia anormal ver alguém andando de pijama de cetim com estampa do desenho do pernalonga em pleno ônibus. Só o pijama já seria um absurdo, não é mesmo? E o que falar de pessoas que vão ao supermercado usando uma pantufa? Parece que o supermercado é o point do choque cultural. Pois tudo isto eu já vi aqui e acredito que você também já deve ter presenciado algo que tenha chamado sua atenção.
Cansei-me de ver as atendentes e caixas de supermercado usando perucas extravagantes, dentes de ouro ou com unhas maiores que da cantora Alcione. Eu vivo me perguntando: - Como será que elas usam as caixas registradoras sem quebrar a unha, enquanto eu não consigo ficar um dia com as minhas impecáveis?
Não tem como não ficar chocada ao ver o montanhoso tamanho dos pratos (quer dizer travessas) e copos (ou melhor, jarras) servidos nos restaurantes. Se você acha que prato grande é de peão ou pedreiro é porque nunca veio aqui. E já que estamos falando em rango, não me acostumei e nunca me acostumarei a ver as pessoas segurarem as comidas com as mãos sem a proteção antibacteriana de um guardanapo.
A praticidade exacerbada dos norte-americanos é algo ainda que me choca. A primeira vez que comprei um pão de cachorro-quente, tirei do saco plástico e, qual foi a minha surpresa? O pão já estava cortado ao meio! Isto mesmo. Tudo bem que ser prático ajuda no corre-corre diário, mas, vender pão já cortado, eu acho um pouquinho demais, afinal, quantos segundo perdemos ao cortar um pão de cachorro-quente?
Passados alguns meses, muitas coisas que eram absurdas, agora são aceitáveis e nem me chocam tanto assim. Hoje eu já não me surpreendo com os visuais “diferentes”, com o estilo hip hop das roupas folgadas, ou com as calças dos homens quase caindo, presas por um cinto abaixo do bumbum e com as cuecas à mostra. Sobre as perucas, eu até já pensei em comprar uma ruiva e sair pelas ruas e ver a reação das pessoas. Com relação às unhas, até poderia tentar, mas acho desperdício de dinheiro, porque sou muito desastrada e não tenho vocação para gavião (risos). Quanto ao dentinho de ouro... Ai já seria demais, né?

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